Comemorando 23 anos de atividades, o Grupo Tarahumaras em parceria com Boiacá apresenta:
O CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS
Texto de Fernando Arrabal
O cemitério de automóveis vem a ser uma versão muito peculiar da vida e paixão de Cristo, a quem dará o nome de Emanú (com a supressão do sufixo “el”, que em hebreu significa Deus, o autor expressa sua opção exclusiva pelo humano). A ação tem lugar num espaço cênico enormemente sugestivo cuja decoração espetacular Arrabal introduz no teatro as tendências materiais das artes plásticas. O mundo vem configurado por um subúrbio de barracos e miséria, de luzes e sombras, representado por um amontoamento em diversos níveis de carros queimados. Com a chegada de Emanú, que pretende, junto com Foder (Pedro) e Tope (Judas) alegrar a vida dos pobres do cemitério, as relações se transtornam. O trio de instrumentistas de jazz, encabeçado por Emanú, que toca a trompete, aparece como um elemento perturbador
Prêmio Myriam Muniz de Teatro – FUNARTE 2009
Local: Centro Cultural “Frei Civitella di Trento”
End: Av. Expedito Garcia, 218 – Campo Grande – Cariacica – ES - Brasil
Datas: 05, 06, 07, 08, 14, 15, 21, 22, 28 e 29 de agosto - 04, 05, 11, 12, 18, 19, 25 e 26 de setembro
Horário: 20 horas
OBS.: O dia 05 (quinta-feira) será a pré-estréia para a imprensa e convidados. Nos demais dias os ingressos custarão R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Informações: (27) 9938.9794
FICHA TÉCNICA
Autor.........................
Tradução......................
Direção/Encenação...........
Direção musical.......................
Figurinos.....................
Produção Visual........................
Produção Executiva.....................
ELENCO
Berenice Pahins........................
Fernanda Picoli........................
Fraga Ferri.........................
Hudson Braga.........................
João Vita..........................
Marcos de Castro........................
Ricardo Amaro.........................
Toda obra de arte se pauta por códigos que lhe são próprios. Códigos estes que, apesar de distintos, podem até se dar como uma unidade no sentido da criação (poiesis) e daquilo que lhes confere o status de obra de arte. No caso do teatro, tanto na dramaturgia quanto na pesquisa de montagem e mise-en-scène (apresentação) parece impossível que se realize sem que se enquadre num modelo entendido a partir do conflito e da existência de personagens, sem falar nas estruturas do texto que geralmente se sustentam de ação central, carpintaria, prólogo, desenvolvimento da intriga, crise, clímax, epílogo, etc.
Isto posto, ao dirigir O CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS, de Fernando Arrabal, faz-se imprescindível rever alguns conceitos, considerando a linearidade do texto, a inexistência de “personagens” e a ausência do conflito. É uma montagem em que a encenação deve tornar-se invisível para que a peça se manifeste, como um corte na realidade. Daí, o conflito se realiza no fenômeno resultado da relação entre palco e platéia e que, os chamados “personagens”, como peças de um jogo de xadrez, não passam de elementos definidos numa rede de significações construídas no cotidiano. Assim, o cenário cede lugar ao espaço, levando em conta que as situações têm uma existência anterior ou paralela, na realidade (sem ser realista), onde os atos humanos se dão como uma contingência. Resta desenvolver uma habilidade no jogo que se estabelece entre os atores em cena e os espectadores.
Wilson Coêlho (Encenador)
ENTRE O LÓGICO E O DESCONHECIDO
Estava em um café de Paris com Beckett quando se aproximou
Susana, sua mulher, com um livro que acabava de chegar
da Inglaterra, intitulado Teatro do Absurdo, de Martin Esslin.
Na capa do livro estavam as fotos de Ionesco, Beckett,
Adamov e Arrabal. Lembro-me que Beckett, a
o vê-lo, sorriu e comentou: “Teatro do absurdo, que absurdo!”
Nenhum de nós era fanático do absurdo nem soldados da razão.
Fernando Arrabal
Encenar uma obra de Fernando Arrabal, para além do prazer estético, significa empreitada perigosa, considerando que, no processo de pesquisa, muitas das vezes, nos apanhamos numa estrada sinuosa que se desenha num terreno baldio. A estrada é sinuosa pelo fato de se construir no próprio ato da caminhada e o terreno é baldio por ser repleto de obstáculos. Obstáculos estes que se dão como tal na medida em que se desvelam, e também re-velam (velam outra vez), aquilo que momentaneamente supomos ter des-coberto.
Por um lado, temos a questão histórica em que a guerra civil espanhola perpassa sua espinha dorsal. Ao mesmo tempo, esse Arrabal nasceu no continente africano, em Melilla, que o faz espanhol pelo fato de ser uma colônia de Espanha em Marrocos. Mas ele se exila em Paris, onde produz praticamente a totalidade de sua obra. Nesse sentido, trata-se de um desterrado, um homem que faz do não-lugar (u-topos) o seu lugar.
Levando em conta a sua trajetória, tanto no sentido cultural quanto artístico, sua obra ocupa espaço (e é ocupada a todo momento) nos movimentos dadaísta, surrealista, postista, pânico e, conforme alguns críticos, no absurdo. Desses movimentos, de certa forma, destaca-se o pânico, criado em Paris, na década de 60, por Fernando Arrabal, juntamente com Alejandro Jodorowsky e Roland Topor. Mas isso não vem muito ao caso se levarmos em conta que o pânico (do deus grego Pan, da totalidade, onde se mistura o humor com o terror) se realiza de forma mais contundente em sua obra cinematográfica.
Em Fernando Arrabal não há como confundir autor e obra, ou seja, um e outro são o mesmo. Tampouco se pode rotulá-lo, pois sua obra tem influências das artes plásticas, da patafísica (ciência das soluções imaginárias, conforme Alfred Jarry), sem esquecer o xadrez, a física quântica, as matemáticas, os fractais, etc.
A linguagem em Fernando Arrabal é a simplicidade, o olhar infantil sobre o mundo, no sentido da ingenuidade, onde a crueldade não diz respeito à moral ou ao imoral. É uma leitura de que o ser humano faz o que faz pela incapacidade de compreender o sentido da existência.
Eis ai o desafio para que surja um novo ator, que não seja dramático, que não seja cômico, mas que experimente essa estranheza do homem diante do lógico e do desconhecido.
Wilson Coêlho
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